terça-feira, 10 de março de 2009

Essência do Tarot

Uma grande curiosidade e o desejo de compreender e desafiar as tramas do acaso são duas constantes que sempre acompanharam o ser humano em sua jornada. Desde o começo de sua fascinante história, a humanidade sempre procurou formas de abrir “janelas” que lhe permitissem vislumbrar o futuro, fazendo uso de rituais, exercícios de concentração, drogas cerimoniais ou oráculos, dos quais o talvez o Tarot seja um dos mais conhecidos e divulgados, tendo sobrevivido a perseguições científicas e religiosas, e chegando até os dias de hoje, abrindo caminho até nós em pleno século XXI.
Muito se tem dito a respeito do Tarot, e seja por mera curiosidade, estudo ou em busca de respostas para questões existenciais, a maior parte das pessoas já entrou, de alguma forma, em contacto com esta fantástica ferramenta de auto-conhecimento.

Mas o que exactamente é o Tarot?
O Tarot é um conjunto de 78 cartas, também chamadas de Arcanos (do Latim “Arcanu”: que encerra mistério; que está oculto, secreto), que por sua vez se dividem em Arcanos Maiores e Arcanos Menores. As 22 cartas que compõem os Arcanos Maiores representam experiências humanas universais e arquetípicas, enquanto as 56 cartas que compõem os Arcanos Menores representam os desdobramentos destas experiências num plano mais concreto e prático de nossas vidas diárias. É muito interessante notar como o Tarot consegue, através de representações simbólicas, reunir de forma simplificada figuras do imaginário e da simbologia universal.
Mas, apesar dos seus símbolos estarem presentes de uma forma ou de outra em todas as culturas, tanto antigas quanto modernas, ninguém até hoje foi capaz de afirmar com certeza nem quando, nem onde, nem por quem o Tarot foi criado.
Sua história se perde no tempo, se confunde com a própria história do desenvolvimento da consciência humana e da formação de sua cultura. Seus capítulos não são escritos de forma linear - vão e voltam no tempo, são escritos e reescritos por muitas mãos diferentes através dos séculos, alterados, revisados, escondidos, e revelados parcialmente de acordo com cada época. É uma história apaixonante, cercada de mistérios e personagens interessantes: sacerdotes ancestrais, ocultistas de renome, artistas geniais e uma infinidade de autores anónimos que, desde tempos longínquos, vêm contribuindo para o desenvolvimento deste fascinante oráculo.
Muito embora localizar o Tarot geográfica e cronologicamente seja uma tarefa virtualmente impossível, sabemos que ele começou a ganhar a forma com a qual o conhecemos hoje na Europa da Idade Média, que então se configurava em um centro para o qual convergiam diferentes culturas e riquíssimas tradições, onde mentes inquietas e sedentas de conhecimento trabalhavam em nome da ciência e da arte, da filosofia e da religião. Neste contexto cosmopolita, ensinamentos esotéricos do oriente e do ocidente juntaram seus genes com a arte representativa da época, formando um conjunto de imagens que, em suas 78 lâminas, ilustrava a história da evolução humana, desde o mais remoto passado até o futuro distante.
Desde então, sua história misturou-se às mais variadas lendas, culturas, povos e credos, de forma que hoje o Tarot abarca uma gama praticamente infinita de teorias, flertando com campos como História, Mitologia e até a Psicologia.
Em seu sistema completo – um conjunto de 78 cartas – o Tarot, paradoxalmente, rompe com os limites do tempo, do espaço e da consciência, para adentrar o domínio ilimitado e imprevisível das artes divinatórias, na medida em que suas cartas compreendem, em si mesmas, a totalidade psíquica da humanidade, individual ou colectivamente, bem como toda a sorte de eventos possíveis, passados, presentes e futuros. Seus símbolos, através de uma linguagem própria, se combinam de forma surpreendente para formar um poderoso léxico.
Seja para buscar a sabedoria das cartas e ampliar a auto-compreensão, seja para obter respostas para questões do dia-a-dia, grandes ou pequenos impasses que paralisam a acção e deixam corpo e alma doentes, centenas de pessoas em todo planeta recorrem ao Tarot todos os dias. Sobretudo, aqueles que consultam o Tarot buscam certezas e garantias, e uma maneira – ainda que não compreendam bem seu mecanismo – de controlar as leis do destino, as reviravoltas da sorte e do azar.
À primeira vista, o repertório simbólico do Tarot pode parecer insuficiente, no sentido de dar conta da infinitude da experiência humana. Mas os seus símbolos combinam-se de inúmeras formas para darem sentido às nossas experiências, contando também com a força da imaginação, com a sensibilidade e com o poder de síntese daqueles que lêem as cartas.
Seis séculos após seus primeiros registos históricos no Ocidente, o Tarot continua sendo um mistério, dadas as incertezas sobre sua origem histórica. Mas o facto é que os seus símbolos ultrapassaram culturas e séculos, tornando-se cada vez mais contemporâneo, dada a sua delicada e instigante capacidade de adaptar-se a qualquer tempo, tratando das questões humanas em todos os níveis, de forma extraordinária.
Embora alguns tarólogos se esforcem para normalizar o Tarot, criando regras e tentando impor um modelo rígido sobre como o jogo deve ser feito, ou melhor dizendo, estabelecendo uma leitura padronizada onde a imaginação e a sensibilidade são deixadas de lado, não devemos esquecer que o Tarot pertence ao imaginário e remonta à uma antiga tradição oral, podendo ser jogado por qualquer pessoa, em qualquer época, em qualquer lugar. O mais importante, quando se lê o Tarot, é conhecer profundamente as representações simbólicas de cada carta, e saber interligá-las. Não existem regras pré-definidas para isso, mas sim a sensibilidade e a capacidade de perceber o Outro.

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